Nova mostra do Acervo IAED: um pouco sobre Cecília Stelini

 

“…A seus passos, os campos ressecados umedecem-se e fertilizam-se. As flores voltam a desabrochar. A primavera retorna…”

A artista vem  ha tempo buscando outros tipos de técnicas, sobretudo na cerâmica, e essa insaciável procura fez com que criasse a fase caracterizada pela pesquisa de materiais e efeitos no vidro. As formas modeladas em vidro, sendo observadas separadamente, são simétricas com duas extremidades ligeiramente elevadas. Têm como característica a transparência e a coloração de manchas, contendo, em algumas, inscrições douradas relativas à conotação temática. Essas peças, de vários tamanhos, representam uma releitura da simbologia do “lírio” – gênero de plantas da família das liláceas – , ou da “lis”, flor como é conhecida na heráldica. Embora isoladamente apresentem peculiar expressividade, a qualidade primordial do universo plástico da artista consiste na sintonia gerada pela distribuição dos elementos.

Os objetos são apresentados numa disposição triangular, cuja quantidade é múltipla de três. Estão agregados de acordo com as suas cores: azuis, laranjas, vermelhos ou lilases. Em sua mais alta significação o “três” equivale ao emblema da Trindade e significa também a influência do espírito sobre a material, do ativo sobre o passivo. A distribuição das peças merece especial atenção, pois realça a simbologia significativa do “ternário”, conduzindo-nos a uma penetração contemplativa mais condizente com o todo de sua instalação.

Ha peças ritmadas, apoiadas nos módulos. Algumas estão iluminadas junto as paredes laterais, enquanto outras maiores, que parecem aladas, estão fixadas no alto também sob o efeito da luz. As três situações propostas nos lembram os ternários correspondentes que Guenon estabelece ao tratar dos três mundos descritos por Dante em sua Commedia: Sattawa, Rajas, Tamas: céu, atmosfera e superfície da terra, interior da terra; future, presente, passado; supra-consciente, consciência, inconsciente.

A aparência desenvolta dos objetos, a posição triádica dos mesmos, a atmosfera resultante das luzes e sombras, explanam a relação dialogal ontological do inter-humano. Para a artista, os seus lírios não se fecham, não são pura interioridade, pois emanam o aroma de abertura ao próximo, traduzindo a relação essencial do homem, que é o diálogo…o encontro.

Há borboletas em um campo…”

Paulo Cheida Sans

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